Eventos de segurança geram consequências para o trabalhador, sejam lesões, fatalidades, bem como as consequências para as empresas, como danos à propriedade e interrupções na operação, imagem e custos.
A indústria, tem uma parcela significativa destes eventos, e alguns números dão a magnitude: a Agência Internacional de Energia indica que acidentes no setor representaram 11% dos acidentes fatais do mundo em 2018, no mesmo ano estimou que o número de mortes foi cerca de 12.000. No Brasil, a ABEEólica em 2019 registrou quatro acidentes fatais durante a operação e manutenção de turbinas e em 2020, a ANEEL registrou 311 acidentes graves, com 105 mortes, 30% à mais que o ano anterior. Segundo a CUT de 2012 a 2022, foram 6,7 milhões de acidentes com 25.500 mortes, 15% devido operação de máquinas e equipamentos.
As investigações indicam fatores que contribuem para os acidentes: falta de manutenção adequada ou problemas em máquinas e equipamentos ou ferramentas ocasionando cortes, esmagamentos e quedas; ambiente inadequado com falta de iluminação, ventilação, espaço adequado ou acesso limitado; treinamento inadequado em relação às normas de segurança e procedimentos, ocasionando falha no conhecimento dos riscos das atividades e erros; horas excessivas de trabalho, repetitividade e falta de pausas adequadas levando à fadiga e estresse, afetando a concentração; erros ou atitudes imprudentes, comportamento inseguro como p.e. correr, pular e brincar; e por fim, o uso inadequado de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Portanto, adotar medidas de prevenção e eliminação de riscos como a programas de segurança no trabalho, treinamentos regulares, manutenção preventiva de equipamentos e máquinas, fornecimento e controle de EPIs, e o uso da tecnologia, irão criar um entorno mais seguro.
The Four Safety Truths
Já em 2014, a Universidade do Colorado publicou um estudo chamado “The Four Safety Truths”, onde concluiu:
- Inspeções de segurança são imprescindíveis para identificar perigos e riscos no ambiente de trabalho, devendo ser complementadas com treinamento, equipamentos adequados e procedimentos seguros.
- Reportar eventos de segurança identificam os problemas e previnem acidentes, mas a cultura deve criar um ambiente em que trabalhadores se sintam confortáveis para reportar problemas e onde a gestão seja pró-ativa na resolução.
- A segurança é responsabilidade de todos, não apenas dos trabalhadores da linha de frente; a gestão tem um papel fundamental em criar uma cultura e promover ações para prevenção.
- A segurança é um processo contínuo de melhoria, portanto trabalhar de forma proativa para prevenir acidentes e avaliar constantemente os processos de segurança e fazer ajustes sempre que necessário, incluindo inovação tecnológica.
Ressalto o papel da gerência, através do “Safety Walk & Talk”, que se concentra em questões de segurança, onde visitam as áreas para conversar com os trabalhadores sobre segurança e verificar as medidas de segurança identificando potenciais problemas e suas soluções, o que permite a comunicação direta para resolver problemas e agiliza a tomada de decisão sobre as soluções possíveis e investimentos em tecnologia.
Abordagens “preditivas” para segurança ocupacional e sua aplicação na indústria.
Esta é parte de uma abordagem de “preditiva”, combinando com tecnologias como a análise de dados, machine learning e inteligência artificial para prever e prevenir incidentes de segurança antes que ocorram, identificar riscos ocultos e fornecer informações em tempo real para prevenir falhas e reduzir a possibilidade de acidentes.
Estudos e pesquisas suportam esta abordagem como o da Deloitte chamado “Pioneering Safety in the Fourth Industrial Revolution“, que explora a utilização da tecnologia para melhorar a segurança no ambiente de trabalho e o artigo “Predictive Safety Analytics: Progress, Opportunities, and Challenges”, publicado na revista Safety Science, que apresenta os principais avanços e desafios da segurança preditiva.
A segurança laboral prevencionista é um conjunto de técnicas, métodos e práticas para a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais no ambiente de trabalho que visa englobar a identificação de riscos e perigos presentes e a adoção de medidas de prevenção para evitar ou minimizar esses riscos, aplicando conhecimentos técnicos e científicos. Um dos métodos utilizados é o Design for Safety (DFS), que busca integrar a segurança desde o início do processo de design de produtos, equipamentos e instalações, com base em normas e padrões internacionais, como a ISO 12100 – Safety of Machinery, a ANSI/ASSE Z590.3 – Prevention Through Design Guidelines, e NR12 – Norma Regulamentadora de Segurança do Trabalho em Máquinas e Equipamentos.
Segurança 4.0 e seus vários aplicativos.
Tal qual a “Indústria 4.0”, devemos considerar o conceito de “Segurança 4.0”, pois a tecnologia pode ser usada para melhorar significativamente a saúde e segurança. Como consequência da quarta revolução industrial, como a internet das coisas (IoT), inteligência artificial (IA), robótica avançada e computação em nuvem, a Segurança 4.0 adota essas messas tecnologias para melhorar a segurança no ambiente de trabalho.
Os benefícios, incluem a redução de riscos de acidentes e lesões, aumento da eficiência e produtividade, melhoria da gestão de riscos de segurança e saúde ocupacional, e aprimoramento da cultura de segurança nas empresas. Já existem várias iniciativas e estudos sendo realizados neste sentido, como por exemplo a publicação “Safety 4.0: A New Era in Industrial Safety” do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE). Alguns exemplos:
- O uso de sensores de fadiga e estresse para ajudar a detectar cansaço ou estresse, alertando para tomar pausas regulares ou dispositivos de monitoramento de saúde, como relógios inteligentes e sensores de movimento, para monitorar a saúde e prevenir lesões e doenças, e até aplicativos móveis para fornecer informações de segurança e saúde no trabalho em tempo real, bem como permitir que os trabalhadores relatem riscos e acidentes, como os da Drixit.com.
- A Realidade Virtual ou Aumentada, usadas para treinar trabalhadores em condições perigosas e simular situações de emergência aumentando a eficácia dos treinamentos.
- Os robôs colaborativos, que trabalham em conjunto com os trabalhadores, aumentando a eficiência do processo produtivo, ou para realizar tarefas repetitivas ou perigosas em locais confinados.
- A análise de dados e algoritmos de aprendizado de máquina que ajudam a identificar tendências e padrões de risco, prevendo e prevenindo acidentes e permitindo adotar medidas preventivas mais eficazes.
- O uso de drones para inspeção de equipamentos em áreas perigosas e sensores para detectar a presença de gases tóxicos.
- Chatbots para fornecer informações de segurança e saúde no trabalho aos trabalhadores, e sistemas de reconhecimento facial para detectar a presença de trabalhadores não autorizados em áreas perigosas.
Segurança no local de trabalho: uma das dimensões mais amplas da sustentabilidade.
Contextualizando perante o ESG (Environmental, Social and Governance) na letra “S”, adotar práticas de segurança e saúde adequadas promovem um ambiente de trabalho seguro e saudável, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e, consequentemente, da sociedade em geral, trazendo benefícios econômicos e de governança para as empresas, reduzindo custos com acidentes, melhorando a produtividade e aumentando a satisfação dos colaboradores.
Nos SDGs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, a segurança no trabalho esta na meta 8.8, “proteger os direitos trabalhistas e promover um ambiente de trabalho seguro e protegido para todos”, na meta 3.4 (saúde e bem-estar), na meta 9.4 (indústria, inovação e infraestrutura) e na meta 11.6 (cidades e comunidades sustentáveis), sendo, portanto, uma das dimensões da sustentabilidade mais amplas.
Podemos afirmar que efetivamente já vivemos a quarta revolução para a Segurança e que trabalhadores, empresas, profissionais prevencionistas, diretores e membros de conselho necessitam ter estes conceitos em destaque nas suas decisões de negócios correntes e futuros como ponto estratégico da governança corporativa e do futuro sustentável das organizações.
SOBRE O AUTOR
Profissional de HSE com uma carreira de mais de 30 anos, Jeser Madureira tem ampla experiência em empresas multinacionais, em cargos de gerência e liderança como executivo sênior em ESG, Qualidade, HSE, Operações e Pessoas. Além disso, ele tem pós-graduação em engenharia de processos, MBA e mestrado em HSE.