Anderson Taschin é um especialista em HSE com mais de 15 anos de experiência, e tem desenvolvido sua carreira na área da energia renovável. Hoje, nós compartilhamos sua reflexão com relação aos desafios e oportunidades de HSE e sobre a inovação no setor de energia renovável.
Drixit: O que o atraiu para o setor de SST e por que você decidiu entrar nele?
Anderson: Há muito tempo atrás, quando eu atuava no início da carreira na área de eletricidade, tive contato com algumas pessoas do meio social que haviam se machucado durante as atividades laborais. Aquilo me incomodava pois não entendia como fazia parte das atividades as pessoas se machucarem. Pois além de ficarem ausentes das atividades cotidianas, terem perdas financeiras e sofriam devido ao acidente tanto perdas físicas, psicológicas e às vezes perda da vida.
Foi então que tive contato com uma profissional de segurança do trabalho e me interessei pela área, a qual abrange a questão comportamental, de procedimentos, técnica, de discussão com profissionais, atualização constante, elaboração de indicadores e apresentações.
D: Você trabalha em uma indústria inovadora há muito tempo: a energia renovável. Quais você vê como os principais desafios de SST na área de energia renovável?
A:Eu vejo como um momento de superação de antigos estigmas: o primeiro de que o acidente faz parte da atividade. Acredite ou não, ainda há pessoas com esse mindset, que acredito que deve ser superada.
E junto com essa superação, a abertura a novos conhecimentos, estímulo a novas práticas seguras, inovação na área de treinamentos e equipamentos (principalmente para trabalho em altura e espaços confinados).
E por fim também a questão do compartilhamento de boas práticas de modo a aperfeiçoar e tornar o trabalho mais seguro e por vezes mais rápido.
D: Que novas tecnologias estão moldando a área de SST na indústria de energia renovável?
A: As tecnologias de trabalho em altura (equipamentos mais leves, mais resistentes, fáceis de serem utilizados) são as que mais me encantam, porém há também a questão de movimentação de cargas com guindastes cada vez maiores, com maior capacidade elevando peças cada vez mais alto, peças estas com maior potência de geração de energia ( a tecnologia avança muito rápido, há muitas pessoas envolvidas em P&D).
Mas há também inovações na área de trabalhos com eletricidade, equipamentos mais leves e resistentes, bastante evolução na questão da automação (o que evita o contato com eletricidade), tudo sendo feito remotamente (que é um dos pontos que mais me fascina, assim como IoT).
D: O que você gostaria de ver implementado nos próximos anos para reduzir o número de incidentes/acidentes?
A: Pode até ser utópico de meu ponto de vista, mas que realmente o custo dos acidentes fosse tão seriamente discutido quanto o possível retorno financeiro do investimento em projetos de energias renováveis. Pois ainda mensura-se muito a questão do retorno mas não leva-se em consideração ou há um subestimo do impacto a imagem da empresa ou a sociedade de acidentes.
E por que ainda não o é?? Por que o processo é mais importante que pessoas, sendo que por trás dos processos sempre temos pessoas (seja operando, elaborando, monitorando ou alimentando linhas de produção). Gostaria de ver realmente implementado a vida em primeiro lugar e não em segundo ou terceiro lugar.
Há muitos relatórios de sustentabilidade emitidos anualmente por grandes corporações, mas a métrica não pode mudar (ou seja deveria haver um critério igual para as medições), pois muitas organizações registram afastamento de maneiras diferentes ou de acordo com determinada norma.
D: Qual é a principal barreira para incorporar inovação na área de SST?
A alternativa que maior impacta ainda é a barreira cultural, pois em nosso país ainda é grande, há uma resistência a novas tecnologias e procedimentos e o pensamento que “quanto mais rápido, melhor” ao invés de que “o mais seguro é melhor e mais garantido de dar certo”.
Nem todos mensuram o que rápido pode dar errado e todos os impactos que aquele erro pode ocasionar, sejam eles na pessoa ou no empreendimento. No caso do empreendimento pode ocasionar perda financeira (multas que podem comprometer a margem do fornecedor), perda de contrato ou perdas para o investidor que tem prazos definidos para receber pelo seu investimento. Isso sem contar a perda de prestígio ao poder realizar novos negócios, em locais sérios caso aconteça um acidente fatal a empresa pode perder contratos ou ficar por mais de 5 anos sem poder operar (possibilidade) ou até mesmo perder uma concessão milionária.
D: Poderia nos compartilhar algum pensamento final sobre a indústria de energia renovável e a inovação no setor de SST?
A: A indústria de energia renovável é um meio para fortalecermos nossa matriz energética para o futuro evitando desta maneira ficar muito dependentes de fontes fósseis ou hidrelétricas. Creio que estamos explorando o pico da construção e geração (em muitos lugares já há a necessidade de realização de retrofit ou seja redimensionar máquinas para uma maior potência, e não são máquinas montadas há mais de 8 anos), assim como experimentando as inovações de SST em ritmo mais acelerado. Mas, em breve, estará um pouco menos aquecida (isso falando de Eólica e Solar, pois ainda temos as offshore e a possibilidade do hidrogênio verde que se assemelha mais a uma planta petroquímica).
Mas creio que o importante, além das inovações em SST, é implantar de cima para baixo a questão do ESG na prática em todos os cenários. Não somente para aparecer bem no mercado ou em relatório, mas também para fazer a diferença positivamente.
SOBRE O AUTOR
Anderson Taschin é um especialista em HSE com mais de 15 anos de experiência, com atuação em diversos segmentos: Energia Renovável (7 anos nível LATAM), Parques Eólicos, Usinas Hidroelétricas, Plantas Fotovoltaicas, Fábricas (Alimentício, Descartáveis, Equipamentos eletro-eletrônicos) e concessionária de distribuição de energia (SP).